sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Sugestão de Atividades de Arte - Aulas 4 e 5: Diferentes faces da máscara.

Aulas 4 e 5: Diferentes faces da máscara.

Pretende-se que ao final dessas aulas, os alunos sejam capazes de:
  • refletir sobre os conceitos de identidade, igualdade e diversidade na formação do ser humano;
  • analisar os diferentes papéis sociais assumidos no cotidiano;
  • perceber a máscara como forma de ser expressar, representar e comunicar emoções;
  • reconhecer a utilização da máscara em vários lugares do mundo, em diferentes culturas (pluralidade cultural).

- Cesta básica (material necessário)
  • massa de papel machê; tintas diversas (guache, aquarela, cola colorida); cola comum; tesoura; fios ou varinhas para fixação; materiais diversos para decoração.
- Pra começo de conversa (apresentação/motivação)
A motivação inicial poderá ser feita através da apresentação, em CD ou vídeo, da composição “Noite dos mascarados”, de autoria de Chico Buarque de Holanda.
Os alunos deverão ter acesso à letra da música (cópia em papel A4 ou cartaz), para que possam acompanhar a canção. Em um primeiro momento, a turma poderá apenas ouvi-la. Depois, divididos em dois grupos, todos participarão da atividade cantando o diálogo romântico da canção. É importante destacar não só a “conversa” na poesia, como também na composição da melodia.

Noite dos Mascarados
Chico Buarque
- Quem é você?
- Adivinha, se gosta de mim!

Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim:

- Quem é você, diga logo...
- Que eu quero saber o seu jogo...
- Que eu quero morrer no seu bloco...
- Que eu quero me arder no seu fogo.

- Eu sou seresteiro,
Poeta e cantor.
- O meu tempo inteiro
Só zombo do amor.
- Eu tenho um pandeiro.
- Só quero um violão.
- Eu nado em dinheiro.
- Não tenho um tostão.
Fui porta-estandarte,
Não sei mais dançar.
- Eu, modéstia à parte,
Nasci pra sambar.
- Eu sou tão menina...
- Meu tempo passou...
- Eu sou Colombina!
- Eu sou Pierrô!

Mas é Carnaval!
Não me diga mais quem é você!
Amanhã tudo volta ao normal.
Deixa a festa acabar,
Deixa o barco correr.

Deixa o dia raiar, que hoje eu sou
Da maneira que você me quer.
O que você pedir eu lhe dou,
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!
Seja você quem for,
Seja o que Deus quiser!

A seguir, o professor estimulará a discussão em grupo, levantando as seguintes questões:
1 – Quais as principais características das pessoas que participam do diálogo na música?
2 – O primeiro verso da canção – Quem é você? - demonstra uma vontade de conhecer
o outro. Como você percebe essa tentativa?
3 – Ao usar uma máscara as pessoas ganham uma nova identidade. O que há de positivo e negativo nesse comportamento?
4 – Quais as funções mais frequentes do uso de uma máscara?
5 – Em que oportunidades as pessoas usam máscaras? Que significados essas máscaras podem ter?

- Desafio criativo (desenvolvimento da atividade)
Sugerir aos alunos a realização das atividades, cumprindo as etapas discriminadas a seguir:
1 - Preparar massa para confeccionar máscara.
Podemos encontrar máscaras confeccionadas com diferentes materiais. Um dos mais comuns é o papel machê.

Material:
1 rolo de papel higiênico
Água
4 colheres de sopa de vinagre
3 colheres de sopa de gesso
10 a 15 colheres de sopa de cola branca

Modo de fazer:
  • O papel deve ser picado e deixado de molho até amolecer. Quanto mais picado o papel, mais rápido ele se dissolverá na solução de vinagre e água. O vinagre além de conservar a massa, acelera a dissolução do papel.
  • Misture o vinagre com papel picado e cubra tudo com água. Deixe de molho. No dia seguinte, esprema bem deixando apenas a massa de papel eliminando todo o excesso de água.
  • Esfarele todo o monte de papel como se fosse fazer uma farofa. Nessa etapa, se quiser adiantar o processo, use o liquidificador. Coloque sempre pequenos punhados de cada vez para facilitar a trituração.
  • Misture a cola branca e o gesso com essa farofa de papel, até que ela adquira a consistência de massa. Em seguida, polvilhe a massa com gesso até sentir que não está grudando nas mãos.
OBSERVAÇÃO: Para facilitar, a massa de papel machê pode ser feita em casa pelos alunos e conservada num saco plástico na geladeira até o dia da aula.
2 – Preparar um pequeno travesseiro com um pouco de jornal amassado envolvido por um pedaço de plástico.
3 – Modelar, com papel machê, uma máscara sobre o travesseiro. Ele facilitará a curvatura necessária para uma melhor adaptação ao rosto. Caso tenha facilidade, você poderá utilizar também uma telha como base da modelagem.
4 – Construir uma máscara deixando o nariz e boca livres, fazendo os orifícios correspondentes. Sua máscara poderá representar um ser humano também bichos, flores, personagens fantásticas, sentimentos, sonhos.
5 – Planejar a forma de fixação da máscara: elástico ou cordão preso às laterais, varinha presa a um dos lados, etc.
6 – Deixar secar e decorar a máscara. Usar tintas, produtos de maquiagem, tecidos, plumas, conchas e outros materiais.
7 – Observar e analisar as máscaras produzidas. Procurar estabelecer, com os colegas, semelhanças e diferenças, agrupando-as segundo os critérios combinados pela turma.
8 – Reunir-se ao grupo onde sua máscara foi incluída. Construir com os colegas um texto cênico, envolvendo os personagens sugeridos, apresentando-o para toda a turma.
9 – Fazer uma síntese do personagem ligado à máscara, criando uma ficha de sua identidade. Incluir nome, idade, características da personalidade, tempo e lugar de sua existência.
10 – Organizar uma exposição em que as máscaras possam ser apreciadas junto às fichas e textos elaborados.

- Voltar para poder avançar (avaliação/sistematização)
Essa atividade levará ao desencadeamento de várias reflexões sobre os diferentes papéis que desempenhamos no nosso cotidiano, as máscaras que assumimos por opção ou necessidade.
É importante refletir e discutir com o grupo sobre:
1 – a descoberta em nós de personagens desconhecidos;
2 – as diferentes máscaras que usamos no dia a dia;
3 – as máscaras dos nossos sonhos, as que gostaríamos de usar;
4 – a importância do uso da máscara no texto cênico como elemento facilitador da representação do personagem;
5 – o uso da máscara no Carnaval e em outras festas populares.

- Revirando o baú (reflexão)

Textos para refletir em grupo

1 - O carnaval permite a vivência de novas formas de relacionamento social e de comportamento coletivo, afastando-nos de tudo que é banal, costumeiro e comumente admitido. É como se as ruas e praças da cidade se tornassem um palco, onde as pessoas podem inventar e viver novas relações de classe, família e ocupação, como se estivessem a provar a viabilidade de uma nova ordem.
Para essa inversão de papéis, o instrumento mais apropriado é, sem dúvida, a máscara, que possibilita a metamorfose da personalidade e a negação da identidade. Com ela, o indivíduo se desdobra, vira sol ou lua, borboleta, arlequim, aristocrata, transformando-se em criaturas insólitas, saídas dos confins da imaginação.
Revista Ventura, nº 15, 1991.

2 - Autopsicografia
Fernando Pessoa
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

3 - A máscara da face
FERREIRA GULLAR
O rosto é a máscara que o acaso biológico nos impôs como identidade, gostemos dele ou não

Já escrevi aqui sobre o rosto humano, a propósito da descoberta que fizera então, óbvia e surpreendente, de que "estamos na cara", isto é, em nossa cara. E apesar de já tê-lo dito e de sabê-lo, continuo a me surpreender com esse fato banal, que se torna mais evidente quando vejo um lindo rosto de mulher: ela tem ombros, busto, quadris, coxas e pernas, move-se na quadra de tênis como se voasse - como Maria Sharapova -, mas tudo se resume, para nós, num rosto.
E então pensei no contrário do rosto: pensei na máscara, no que não somos. Porque o rosto é o que somos, inventou-se a máscara, a ocultação do que somos.
Certamente já escreveram sobre isso. Deve haver estudos e teorias sobre esse tema, pelo qual nunca me interessara, até este momento. Lembro-me de que uma das primeiras pinturas rupestres, do paleolítico, mostra uma figura mascarada, que se supõe seja um feiticeiro ou um caçador disfarçado de animal. Se for uma coisa ou outra, o significado de mascarar-se será diferente: sendo o caçador, é um disfarce; se for um feiticeiro, trata-se da representação de uma entidade mítica, dotada de poderes sobrenaturais.
Ao longo da história, em povos e civilizações diferentes, a máscara representava espíritos em geral demoníacos, que participavam de rituais, fosse para exorcizá-los, fosse para atemorizar os membros da comunidade e torná-los obedientes e submissos. Muitas dessas máscaras, que estão hoje em museus de antropologia, exageram na expressão assustadora, na feiura que seria própria dos demônios.
Mas a máscara tem tido funções diferentes nas diferentes culturas, seja como um modo de garantir a vida depois da morte, como no antigo Egito, seja como um modo de enganá-la, cobrindo o rosto do cadáver com uma cara inventada.
Aliás, como é óbvio, a máscara, falso rosto, foi criada para enganar, pelo fato mesmo de que, como ficou dito, nosso rosto somos nós. E, se assim é, ele nos identifica e, portanto, nos denuncia, pelos traços fisionômicos, mas também pela expressão do olhar. De cara exposta, olho no olho, é quase impossível fingir, mentir, enganar, mas, por trás da máscara, estamos a salvo do olhar perscrutador. Não adianta fitar os olhos, se não sabe de quem são.
Devemos admitir que desse olhar perscrutador queremos todos escapar e aí talvez esteja a razão fundamental porque a máscara esteve sempre tão presente na vida dos povos. No Ocidente, particularmente, a partir do desenvolvimento da economia, o olhar que indaga foi se tornando mais agudo e necessário: é que nasceu o comércio, a transação fundada na confiança e, então, segundo Arnaldo Hauser, surge a psicologia. Essa situação fez nascer um outro tipo de máscara, ou seja, o cara-de-pau, que não hesita em se fazer passar pelo que não é. E assim, além da máscara material, existe a de cara limpa. A máscara virtual do fingidor.
E aqui tocamos num ponto que explica, em grande parte, a invenção da máscara pelo homem, o fato de que, se o rosto que temos somos nós, nem sempre queremos expô-lo, porque nem sempre queremos nos expor, não só por autodefesa como também porque não sabemos quem somos e não sabemos, tampouco, se o outro, ao nos olhar, nos vê como somos ou desejamos ser vistos. É que o que somos só ganha realidade pelo reconhecimento do outro, ou seja, não somos, de fato, senão porque nos inventamos tal como queremos que o outro nos reconheça e aprove. Esse personagem inventado, que mostramos ao outro, exige de nós equilíbrio e adequação ao meio social, a fim de que ele nos aceite como pessoa verdadeira e não como um "mascarado".
Essa relação do rosto e da máscara parece decorrer da necessidade que temos de ficar livres do olhar do outro e livres, portanto, de sermos, para ele, aquela mesma pessoa de quem espera as mesmas coisas. Por essa razão, Jean-Paul Sartre dizia que "o inferno são os outros".
A questão toda é que nem para nós somos os mesmos, sempre, totalmente fiéis aos e princípios que decidimos adotar. Ser ético não é jamais se deixar tentar pelo erro e, sim, resistir à tentação, para poder, depois, olhar-se no espelho, sem sentir constrangimento.
Talvez o certo seja dizer que o rosto é a máscara que o acaso biológico nos impôs como identidade e é o espelho que nos informa da cara que é nossa, gostemos ou não. Mas, segundo li, nos Estados Unidos, graças à cirurgia plástica, já se pode trocar o rosto de nascença pelo de uma bela atriz ou de um belo ator, que se admira. E andar com a cara dela (ou dele) pelas ruas da cidade.

- Esticando a conversa (desdobramentos/bibliografia)

O tema Diferentes faces da máscara é rico em possibilidades de desdobramentos, como as atividades sugeridas a seguir.
1 – Exemplificar, oralmente, o uso de expressões populares, tais como: cair a máscara, vestir a máscara, arrancar a máscara, atribuindo seus reais significados.
2 – Discutir em grupo os papéis sociais da máscara, tanto em sua forma concreta (máscaras profissionais – cirurgião, soldador, mergulhador, apicultor, etc), quanto em sua concepção abstrata (máscaras políticas).
3 – Lembrar os nomes dos personagens e heróis que usam máscaras: Zorro, Batman e Robin, Homem Aranha, Fantasma, tentando desenhar de memória as formas específicas de cada uma de suas diferentes máscaras.
4 – Levantar diferentes materiais utilizados na confecção de máscaras – papel, madeira, borracha, pano, silicone, etc. - conhecidos pelo grupo.
5 – Conhecer a origem das máscaras e do teatro grego, fazendo a leitura do texto:

Texto 1: Origem das máscaras no teatro grego
O teatro grego era um espetáculo composto de música, canto, dança e do diálogo dos atores. Quando lemos uma tragédia grega, devemos nos lembrar que as falas do coro são na verdade cantos. A princípio um só ator dialogava com o coro e com o corifeu. O poeta dramático Ésquilo (525–456 a.C.) foi o primeiro a utilizar dois atores em cena: o protagonista (literalmente primeiro competidor) e o deuteragonista (segundo competidor). Sófocles (496-406 a.C.) foi quem criou um terceiro ator, o tritagonista. Com a utilização das máscaras, tais atores faziam todas as personagens da peça.
As máscaras gregas eram do tamanho do rosto e podiam ser feitas de madeira, couro ou pano, com cola de farinha. As que representavam a dor e a alegria tornaram-se o símbolo do teatro.
Ésquilo e Sófocles, junto com Eurípedes (484 a 406 a.C.) são considerados os maiores autores trágicos e fizeram do século V antes de Cristo o ápice do teatro trágico grego.
PEC – Projeto Escola e Cidadania. Fascículo Teatro. Editora do Brasil, São Paulo, 2000)

6 – Pesquisar a função do uso da máscara em culturas indígenas e africanas.
7 – Conhecer a influência das máscaras africanas na obra de Pablo Picasso, através da leitura do texto 2: A influência das máscaras africanas na obra de Picasso.

Texto 2: Influência das máscaras africanas na obra de Picasso

A arte africana inspirou Picasso a criar o movimento cubista, o qual recebeu a influência das distorções do entalhe africano, destinadas a mostrar simultaneamente aspectos múltiplos de um objeto. As técnicas cubistas expressam intensas emoções e conflitos internos.
O quadro Les Demoiselles d'Avignon representa o ponto de transição da fase de influência africana para o puro Cubismo; esse quadro é uma obra de ruptura, uma das poucas obras que, sozinha, alterou o curso da arte; os cinco nus do referido quadro têm anatomia indistinta, olhos tortos, orelhas deformadas e membros deslocados.
Os principais produtos artísticos africanos são as máscaras e as esculturas em madeira, as quais, para os membros da sociedade africana, constituíam objetos sagrados com poderes sobrenaturais: acreditavam que poderiam atrair a destruição ou distribuir bençãos.
As máscaras e as esculturas em madeira têm forma angulosa, assimétrica e distorcida; uma forma não-realista, obviamente para expressar, com efeito dramático, que os objetos abrigam espíritos poderosos; nada de aparência real, mas formas verticais e membros do corpo alongados.
As máscaras africanas seguem características comuns: feitas em argila ou madeira, possui rosto e nariz alongados, olhos vazados e boca de tamanho acentuado.
As máscaras são decoradas com grafismos (desenhos) geralmente abstratos ou geométricos.
Para mim, as máscaras tribais não eram apenas esculturas. Eram objetos mágicos que intercediam contra tudo, contra o desconhecido, contra espíritos ameaçadores. Eram armas para evitar que as pessoas fossem governadas por espíritos, para ajudá-las a se libertarem. Se nós damos uma forma a estes espíritos, os tornamos livres. (Pablo Picasso)

8 – Explorar as imagens e textos que mostram a utilização do tema máscara na obra do pintor pernambucano Reynaldo Fonseca.
9 – Conhecer, através de imagens e pesquisas na Internet, a utilização de máscaras na cultura popular local e internacional (Ex.: Baile de Máscaras, Carnaval de Veneza).

- Apoio didático:
Livro:
DUMAS, Alexandre. Adaptação de CONY, Carlos Heitor. O máscara de ferro. Editora Objetiva, São Paulo, 2003.
Filmes:
  • O homem da máscara de ferro
  • O máscara
  • Batman

Endereços eletrônicos:

Professor: Lembre-se também de fazer: Achados e perdidos (considerações do professor)

Postado por Susana Lúcia do Nascimento

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